Sumario: | Este trabalho insere-se na discussão sobre a escrita e a formação de professores no Brasil. Damos especial atenção a produção escrita feita no estágio, pois é neste momento que o professor em formação debruça-se sobre a realidade escolar, confronta-a com as teorias aprendidas ao longo do curso e tem a possibilidade de trilhar caminhos próprios, intervindo em direção às mudanças que ele julga necessárias. Temos como principal objetivo analisar e interpretar as escritas de estudantes do curso de pedagogia no relatório de estágio do Programa Ler e Escrever. Questionamos em que medida os registros feitos nos relatórios de estágio configuram-se como dados capazes de gerar reflexões e produzir conhecimento. O foco de nossa atenção não é o que o aluno pesquisador observou, mas a maneira como registra o que ele observou. Teoricamente apoiamo-nos em Barzotto e Eufrásio (2009) que consideram que o relatório de estágio é um importante instrumento para se partir do concreto e chegar a reflexões de cunha teórico. Seguindo esses autores, e como estratégia para que o relatório de estágio tenha um caráter mais científico, sugerimos que o graduando em campo assuma a postura de um pesquisador, e inspire-se nas habilidades que devem ter um etnógrafo na coleta dos dados e no uso do caderno de campo. Observamos nos relatórios de estágio por um lado descrições que não recebem tratamento acadêmico, e por outro coletas de dados que parecem inspirar-se na postura de etnógrafo em sala de aula, mas ainda não apresentam uma análise sólida. Concluímos que para que se produza um relatório de estágio que contribua com a produção de conhecimentos na universidade, e que reflita sobre questões da realidade escolar consideramos a pertinência do uso comprometido do caderno de campo e a coleta de dados inspirada etnografia.
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